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Esperava que o desejo se materializasse como que por mágica em algo concreto, alguma coisa que pudesse ser transmitida por frases continuadas, sem o romântico ardor desconexo dos pensamentos. É como dizem, a mente voa enquanto as palavras correm. Mas a minha mente não voava, longe disso; a ideia de escrever uma crônica foi o mais alto que minha mente fora essa manhã, num profundo corte em direção às nuvens. E depois, ela voltou, estacionou numa brisa leve e seguiu caminho tranquilo e corriqueiro, enquanto minhas mãos reais preparavam café preto.
A fantasia mantinha-se distante, mantendo uma distância segura entre meu ser ordinário e a ideia que o alegrara. Olhava minha escrivaninha, a caneca vazia de ontem em cima da enciclopédia, o banco de madeira, tudo mais ou menos escondido pela fumaça que nascia do copo na minha mão. Nada se transformava como deveria, nada me levava ao prazer de tornar a ideia real. Ou tão real quanto a realidade permitiria.
Sentar-me não ajudou. Verdadeiramente, congelou qualquer brilho psíquico, tamanho é o poder de uma folha em branco. As letras tornam-se rabiscos, os dedos sobrevoam o teclado sem encontrar o que procuram – se é que procuram mesmo alguma coisa. O café esfriou e bebi apesar disso. Afastei-me e enchi novamente o copo. Não havia brilho nenhum, mas tinha a cafeína – e seu aroma – comigo, num aperto de mão firme.
O último gole se foi, enevoando minha mente e a agitando. E num ímpeto inexplicável, típico dos pivetes à procura de aventuras, fui até a escrivaninha, desviando das almofadas no tapete, e digitei a palavra Outono. Só isso. Não foi o bastante para acordar a fantasia, mas diminuiu o monstro que só eu via. Fui embora, para o mundo – e mais ordinário ainda – real.
Depois de quinze copos de café, distribuídos em quinze ensolaradas manhãs, Outono foi o título de um poema. O primeiro poema que escrevi na vida.
Por: Alana Campanha.
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