Título (original): We need to talk about
Kevin
Autora:
Lionel Shriver
Páginas:
464
Editora:
Intrínseca.
Sinopse:
Lionel
Shriver realiza uma espécie de genealogia do assassínio ao criar na ficção uma
chacina similar a tantas provocadas por jovens em escolas americanas. Aos 15
anos, o personagem Kevin mata 11 pessoas, entre colegas no colégio e
familiares. Enquanto ele cumpre pena, a mãe Eva amarga a monstruosidade do
filho. Entre culpa e solidão, ela apenas sobrevive. A vida normal se esvai no
escândalo, no pagamento dos advogados, nos olhares sociais tortos.
Transposto o primeiro estágio da perplexidade, um ano e oito meses depois, ela dá início a uma correspondência com o marido, único interlocutor capaz de entender a tragédia, apesar de ausente. Cada carta é uma ode e uma desconstrução do amor. Não sobra uma só emoção inaudita no relato da mulher de ascendência armênia, até então uma bem-sucedida autora de guias de viagem.
Cada interstício do histórico familiar é flagrado: o casal se apaixona; ele quer filhos, ela não. Kevin é um menino entediado e cruel empenhado em aterrorizar babás e vizinhos. Eva tenta cumprir mecanicamente os ritos maternos, até que nasce uma filha realmente querida. A essa altura, as relações familiares já estão viciadas. Contudo, é à mãe que resta a tarefa de visitar o "sociopata inatingível" que ela gerou, numa casa de correção para menores. Orgulhoso da fama de bandido notório, ele não a recebe bem de início, mas ela insiste nos encontros quinzenais. Por meio de Eva, Lionel Shriver quebra o silêncio que costuma se impor após esse tipo de drama e expõe o indizível sobre as frágeis nuances das relações entre pais e filhos num romance irretocável.
Transposto o primeiro estágio da perplexidade, um ano e oito meses depois, ela dá início a uma correspondência com o marido, único interlocutor capaz de entender a tragédia, apesar de ausente. Cada carta é uma ode e uma desconstrução do amor. Não sobra uma só emoção inaudita no relato da mulher de ascendência armênia, até então uma bem-sucedida autora de guias de viagem.
Cada interstício do histórico familiar é flagrado: o casal se apaixona; ele quer filhos, ela não. Kevin é um menino entediado e cruel empenhado em aterrorizar babás e vizinhos. Eva tenta cumprir mecanicamente os ritos maternos, até que nasce uma filha realmente querida. A essa altura, as relações familiares já estão viciadas. Contudo, é à mãe que resta a tarefa de visitar o "sociopata inatingível" que ela gerou, numa casa de correção para menores. Orgulhoso da fama de bandido notório, ele não a recebe bem de início, mas ela insiste nos encontros quinzenais. Por meio de Eva, Lionel Shriver quebra o silêncio que costuma se impor após esse tipo de drama e expõe o indizível sobre as frágeis nuances das relações entre pais e filhos num romance irretocável.
Eva tem
uma vida que muitos gostariam de ter, com direito a uma empresa própria e
viagens ao redor do mundo. Mergulhada em liberdade e multiculturas, ela de
repente perde aquela “paixão” inicial por essas aventuras, e mesmo após se
apaixonar e casar com o marido que ainda ama, ela sente um vazio por dentro.
Kevin então nasce como uma promessa de reacender em Eva a verdadeira
felicidade de existir. Porém, anos mais tarde, Kevin acaba nos noticiários por
fazer um massacre em sua escola, totalmente planejado. Julgado e preso, é Eva
quem tem de lidar com as consequências de ter um filho assassino. Logo após a
condenação do filho, ela também é julgada, pois acredita-se que a culpa de
Kevin ter uma personalidade desajustada pertence, em grande parte, a sua mãe.
Sozinha, condenada pela opinião pública e
afundada em dívidas, ela se divide em sobreviver dia após dia, visitante o
filho na prisão e aliviando sua mente caótica numa correspondência com o
marido. É nessa correspondência íntima e honesta que vemos o desenlace de uma
mãe que tenta desdobrar os motivos obscuros da anormalidade de Kevin.
No começo, fiquei com um pé atrás pela escolha
de se contar a história por cartas, pois sempre fico com a sensação de que as
cartas fictícias se parecem muito mais com narrativas cheias de detalhes — que
poderiam muito bem não serem cartas — do que cartas propriamente ditas. Mas a
narração epistemológica da obra consegue passar a intimidade de uma
correspondência extremamente pessoal, mais as lembranças guardadas de uma
mulher que decidiu contar o seu lado da história, com rancores e confissões. O
livro é permeado de lembranças de Eva, desde a decisão de ter um filho até o
último dia antes do massacre. Cheia de digressões, a obra apresenta frases
longas e sintaticamente complexas, como que para refletir os mais profundos
pensamentos da narradora, imersos em angústia.
A vida
de Kevin e sua relação com a mãe nos é contada por ela de forma não-linear. E
mesmo nós leitores já sabendo da tragédia que se anuncia, o suspense ainda é do
mais alto grau, construído em momentos certeiros, em pistas espalhadas pelo
cotidiano de Eva tentando decifrar os comportamentos peculiares do filho,
ignorados pelo pai, cego de devoção a Kevin. Quanto mais vemos Kevin crescer, e
mais o prenúncio de uma tragédia se mostra às claras, mais nos sentimos
ansiosos por saber como os fatos realmente se desenrolaram, o como e porquê aconteceu. E ficamos chocados quando o descobrimos, choque
principalmente desencadeado pelo brilhantismo de um clima de suspense
perfeitamente bem construído.
Os personagens são realistas, e como
percebemos como elas são por dentro, um amontoado de falhas e qualidades, tudo
observado e deduzido por Eva em suas digressões, não há praticamente
personagens com muito carisma. A autora não os fez para que nós nos
apaixonássemos por eles, os fez para serem mostrados.
Eva pode ser amarga, perfeccionista, aventureira, e sentir-se culpada pelo
filho. Distante de Kevin, sempre soube que algo estava errado com o garoto, e
ficava na polêmica linha de amá-lo ou não amá-lo. Seu marido, esperançoso,
positivo e paternal ao extremo, é o oposto direto de Eva, frequentemente
fechando os olhos para os comportamentos esquisitos do filho. Kevin põe os pais
no jogo ao seu favor, com maldade pura e artimanha, num verdadeiro teatro de
filho perfeito que só sua mãe consegue enxergar.
Entretanto, o livro acaba falando mais do que a
genealogia de um assassino. A obrigatoriedade da gravidez é discutida em
algumas passagens por Eva, que sente obrigada a desejar filhos, mesmo tendo uma
vida que sempre sonhou. Daí, o controle social e familiar sobre a gravidez toma
conta, e a mãe se transforma num simples recipiente que leva uma nova vida. Sua
importância no mundo se limita a ser esse recipiente. Eva recebe ordens dos
médicos, do marido, das amigas, tudo em prol do que todos acham que uma
gravidez saudável deva ser. E isso também mostra o machismo dar as caras num
nível que poucas pessoas comentam: o marido não concordar que a gravida tenha
uma vida que não se relacione minimamente com o bebê. Eva é praticamente
proibida de dançar por ele, em pleno século XXI.
“[...], cruzada a soleira da maternidade, de repente você se transforma em propriedade social, no equivalente animado a um parque público. Aquela frase “você agora está comendo por dois, querida”, nada mais é que uma forma de provocação, porque nem mais o jantar é assunto privado seu. ”
Há
também a discussão sobre a mãe precisar se dar por inteiro ao filho, amá-lo
incondicionalmente e esquecer da própria vida para cuidar dele, enquanto o pai
só dá um “auxílio”. Essa cultura infelizmente é muito presente, inflando o
pensamento de que só somos mulheres “de verdade” quando esquecemos carreira e
vida social para nos entregarmos à maternidade, obviamente enquanto solidamente
casadas.
Lionel Shriver consegue nos apresentar um
drama permeado de suspense e as mais variadas reflexões, seja a respeito da
maldade inexplicável, seja a respeito das verdades sombrias sobre a maternidade
e família que as pessoas ignoram. Em face de tantas tragédias orquestradas em
escolas na América do Norte, “Precisamos falar sobre o Kevin” é bem mais real
do que deveria ser.
Olá, Alana tudo bem?
ResponderExcluirEu só vi o filme "Precisamos fazer sobre o Kevin", a Tilda que faz a Eva, está maravilhosa, eu adoro a atuação dela. Eu acho o livro como o filme, fica aquela duvida no final, que pessoas ruins, nascem ruins ou se tornam ruins, eu acredito que elas se tornam ruins com a suas experiencias de vida, Kevin tinha tudo para ser uma vida ótima, apesar das dificuldades que os pais passaram no começo, se foi amor, se foi o desprezo, se a mãe, se foi o pai, se foi uma conversa com alguém estranho, se foi outras outras coisas que nem nos damos conta, podem der todos esses fatores pode ser nenhum, que podem ter levado a Kavin fazer aquele assassinato macabro, mais sempre no final vai ter uma mãe que vai ficar a vida toda pensando onde ela errou, mesmo que digam que não foi culpa dela, ela nunca vai tirar isso da cabeça, essa ligação de mãe e filho, que nós filhos muitas vezes ignoramos, sempre vai existir. E a dor e o sofrimento, sempre vão existir cada vez que ela olha para o filho.
Eu adorei o filme, a mente humana sempre fazendo a gente se surpreender para coisas ruins, e felizmente para coisas boas :)
Bjokas!
Oi, Duda! É verdade, tanto o livro quanto o filme especulam sobre como o Mal surge, mas não dão respostas de fato, pois a humanidade nem as encontrou ainda. Há um conto (que virou filme) do Stephen King que também fala sobre a questão do Mal, chamado "O aluno inteligente" que recomendo. Eu também gostei muito do filme, Eva e Kevin foram excelentes, e sempre gosto quando as adaptações de livros ficam sem as narrações em off, se utilizando só de imagens para contar a história.É uma Arte diferente, afinal de contas.
ExcluirBeijoos e até :)