Fuga



Está chovendo muito e mal consigo ver algo além da neblina, o cheiro de chuva, terra e plantas molhadas me enchem as narinas e sinto-me perdida nesse mundo esfumaçado. A avenida estende-se pela névoa, os edifícios de ambos os lados parecem vazios e mortos, as gotas batendo contra as janelas e concreto parecem machucá-los.

Somente estou protegida pelo toldo da padaria, fora da chuva, mas recebendo os ventos e respingos da tempestade. Meu casaco vermelho não me esquenta, abraço-me na tentativa de reunir algum calor, no entanto, continuo tremendo, o gelo se espremendo por entre meus botões, mangas e gola, dançando por minha pele e ossos. Estou mal, muito mal, pior do que estar sozinha é saber que não tenho para onde voltar. Saber que o frio desta chuva, que as ruas vazias cravejadas por água e gelo são meu novo lar, minha nova jornada.

Minha irmã, definitivamente adormecida em minha cama, com seu vestido horroroso e ensanguentado, logo seria encontrada. A janela aberta permitindo que esta chuva molhe parte do quarto e a cama bem abaixo, lavando o sangue, mas não o suficiente. Ela logo seria encontrada, eles veriam seu rosto branco, ensopado, veriam seu estômago coberto em vermelho, tão vermelho quanto meu casaco que nada esquenta.

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Fuga Fuga Reviewed by Alana Camp. on novembro 28, 2022 Rating: 5

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