Sinopse
Os internos do Asilo Arkham fazem um motim, tomam os funcionários do hospício como reféns e exigem a presença de Batman.
Mais do que enfrentar seus velhos inimigos, o herói precisará confrontar a si mesmo e ao horror de sua própria loucura.
Paralelamente, o leitor conhecerá a trágica história do fundador do hospício.
"Enough madness? Enough? And how do you measure madness? " - The Joker
Título (original): Arkhan Asylum - A Serious House on Serious Earth
Roteiro: Grant Morrison
Arte: Dave Mckean
Páginas: 216
Graphic Novel publicada no Brasil pela Editora Panini
Quando comecei a me aventurar nos tão
famigerados quadrinhos, não pensei que fosse algo sério. Não pensei que
passaria além de umas risadas, uma simples descontração, nunca ultrapassando
uma reflexão momentânea, seguindo sempre para o caminho do também tão
famigerado entreterimento.
Diversificar minhas leituras, conhecer uma cultura em alta, mas no fundo uma
das principais razões era me divertir, e claro que isso aconteceu nos poucos
títulos já lidos. Sempre tive uma visão – como a maioria das pessoas têm – de
rebaixamento dos quadrinhos, principalmente dos (ocidentais) de Super-Heróis;
não vou mentir, se não fossem pelo grande boom
desse macro gênero no cinema, eu não iria atrás de HQs – e consequentemente não
voltaria aos mangas tampouco.
Talvez o que quero expressar aqui é meu
despreparo para o choque que essa Graphic fez em mim. Não esperava pensar
nela a noite inteira, ao mesmo tempo em que tentava esquecê-la. Havia pensado
em escrever assim que a terminasse, mas as palavras me fugiam, pois elas mal existiam
na minha cabeça, tamanho meu estupor. E como chovia e o cômodo estava
escurecido, o clima ajudou, tanto fora quanto dentro da história. A verdade é
que depois de ler A Piada Mortal (não
se considere um fã do Coringa se ainda não leu), resolvi continuar a ler os
clássicos da DC Comics, principalmente Batman.
Sim, o herói que infelizmente virou puro merchandising
marca de roupa, tem ótimas histórias, mas pelo modo como a mídia o trata
sempre me deixou com um pé atrás. Bem, pelo menos ate hoje. Até essa história.
Para os não informados (vamos enfrentar a
verdade, a maioria nunca leu nada do Batman, só com o audiovisual como
referencia), Arkhan é um asilo para criminosos insanos, sendo teoricamente
tanto uma prisão, quanto um hospital psiquiátrico. É para lá que Batman envia a
maioria dos criminosos fantasiados que enfrenta, com a mínima esperança deles
se curarem de sua insanidade. Eles escapam, ele os coloca de volta. Um ciclo
sem fim, principalmente se tratando do Coringa. Na história, os internos fazem
um motim. O sanatório todo se revolta, fazendo todos os funcionários de refém,
com uma única exigência: A presença do homem morcego.
Bruce não vê alternativa, a não ser acatar a
exigência e acaba indo para o Arkhan. Lá, os pacientes insanos andam sem
perspectiva entre os reféns assustados, com o Joker Coringa mais ou menos no comando da situação. Em
diálogos muito bem elaborados e em desenhos assustadores, somos levados a
loucura não só das pessoas, mas do próprio ambiente, cujas garras parecem
querer tocar Bruce Wayne. é mais do que claro o desejo do Joker de ver Batman
enfrentar a decadência e loucura que os internos – os inimigos de Batman –
enfrentam todos os dias. Nesse ponto, a jornada de Batman se inicia, onde ele
se vê obrigado a percorrer os corredores sombrios daquele inferno, pontilhados
de criminosos insanos.
Entre as cenas terríveis e claustrofóbicas
dentro do Arkhan, acompanhamos também a historia do Fundador do Asilo – de
fato, a Graphic se inicia com o fundador ainda criança. Porém, longe de ser os
flashbacks explicativos e sem emoção, temos um grande trabalho em terror
psicológico, com cenas e pensamentos tão grotescos quanto perturbadores.
Realmente, o clima perturbador é presente o tempo todo, reforçado pela escolha
do estilo de arte gráfica. Com desenhos aparentemente sem contornos, eles se
desenrolam ora esfumaçados, ora realistas; colagens, sombreamentos, pinturas,
todas as técnicas utilizadas se empenham para nos presentear com imagens
soturnas, melancólicas, assustadoras. Eu não tenho medo de palhaços, mas o
Joker daqui dá arrepios.
A sensação é de ler um livro de Stephen King,
porém com o desconforto já abrindo a história, e seguindo acima até o final,
sem pausas para respirarmos. O roteiro é excelente, mas é impossível imaginar
que o clima se manteria sem essa arte gráfica, já que ela e o roteiro se
encaixam quase como uma entidade. Um verdadeiro romance gráfico. Na verdade,
imagino facilmente a história como um romance, mas ao mesmo tempo não consigo
imaginá-la fora desse universo desenhado, que foi tão impecável. Sem dúvida uma
obra de Arte.
As discussões a respeito da insanidade humana
são pontos altos. Pacientes fazem suas próprias alegorias a respeito, Batman
tenta manter-se a margem e o fundador conta sua vida no diário, aonde pouco a
pouco, vai perdendo a sanidade. Com o objetivo de transformar a mansão da
família num asilo psiquiátrico – por não concordar que doentes mentais sejam
tratados como criminosos comuns na prisão – ele acaba ajudando a construir sua
ruína. De fato, Arkhan Asylum parece uma divindade que foi nascida da loucura e
se alimenta dela através das décadas. A loucura como principal personagem é
indomável, fazendo com que um dos personagens dê a entender que lá todos são
produtos bizarros de um sonho, e Bruce é o sonhador.
É a jornada de Bruce Wayne para manter sua
Razão, enquanto os corredores sombrios tentam levá-lo a perdê-la por completo.
Irônico que a maioria dos loucos que “tentam” desequilibrá-lo, foram postos lá
por ele. Vemos as consequências dessa perda
num nível interno, refletidas no caótico sanatório.
Todos os aspectos são excelentes e como não
podia deixar de ser, recomendo, principalmente para aqueles que desejam uma
leitura gráfica de qualidade; reafirmo que Arkhan
Asylum é uma leitura perturbadora, ou seja, se quiser uma história leve de
Super-Heróis, passe longe. Do contrário, mergulhe profundamente.
2 comentários
Não sou muito fã nem entusiasta de histórias de super heróis mas confesso que essa, em particular, me chamou atenção, por ter de plano de fundo um Asilo, tenho um interesse, um tanto quanto macabro, em histórias que se passam nesses lugares, enfim, ótima a resenha, parabéns.
ResponderExcluirEstou seguindo e adorando o blog.
Beijos.
Tenho um blog no qual falo sobre filmes, series e cultura no geral. Se puder dar uma conferida ficarei muito grata: http://cineleva.blogspot.com/ :)
Acredite, eu também não sou a maior entusiasta dessas histórias de super-heróis; vejo os filmes, mas na hora de ler, sempre prefiro as mais sombrias ou mais pé no chão, como as obras clássicas do Batman - onde o Joker ou o Asilo é o foco, pois eu gosto de histórias sobre loucura. Recomendo que você leia - nem parece uma história de super-herói; e não é :)
ResponderExcluirDei uma olhada no seu Blog e adorei, já estou seguindo.
Beijos.