Título (original): Moon Knight
Roteiro: Warren Ellis, Cullen Bunn
Arte: Declan Shalvey, Greg Smallwood, Ron Ackins, German Peralta
Volumes: 16
Para quem não lê muitos quadrinhos o que não está muito longe da minha realidade, saibam que
o pior inimigo de qualquer herói (vilão, anti-herói, que seja) é a mudança de equipe criativa. Você se acostuma com o
jeito que a história é contada, se acostuma com os traços e tudo segue seu
perfeito caminho. E, de repente, muda. Às vezes para melhor, outras para pior.
Mas além de mudar para pior, o fato de a qualidade virar uma montanha russa de
mudanças – está bom, está ruim, voltou a ficar bom, ih, ruim de novo – irrita
tanto quanto um sólido ruim. E mais ainda, quando se trata de um ótimo herói
vigilante numa história que começou muito bem. E que adorei.
É comum as pessoas que não tem o que fazer
o chamarem de Batman branco, apesar de esses dois terem mais diferenças que
semelhanças, que ficam visíveis logo no primeiro volume. Seu nome é Marc
Spector e, após morrer no Egito, ele é ressuscitado por pela deidade Khounshu,
aquela que defende os viajantes noturnos. Assim, ele se torna o vigilante
Cavaleiro da Lua, e combate o crime e ajuda a resolvê-los durante a noite. Como
o “protegido” da entidade egípcia, ele tem poderes de acordo com a fase lunar.
Nessa história em específico, só notamos uma possível força - sobre humana e
invulnerabilidade. E claro, a característica principal – e mais famosa – do
vigilante, é, certamente, aquela que o diferencia da maioria dos heróis: Ele é
louco. Literalmente.
Após sustentar sua identidade secreta como
Cavaleiro da Lua, e fingir outras para manter a fachada e encontrar informações
do submundo do crime, Spector acaba desenvolvendo esquizofrenia. Ou, mais especificamente,
Transtorno Dissociativo de Identidade (DID,
na sigla em inglês). Agora, ele tem a mente dividida em quatro personalidades:
Marc Spector (a personalidade real do homem), Cavaleiro da Lua (O vigilante e
“avatar” da deidade, que nesse quadrinho, também parece se dividir em “sub-personalidades”
de acordo com a situação), Steven Grant (o bilionário) e Jake Lockley (o taxista),
esses últimos assumindo o lugar do Cavaleiro quando é necessário. Alucinações
também não são algo incomum para ele. Spector também pode assumir outras
identidades além dessas, como na mini-série (4 volumes) Recomeço, no qual o
vigilante, precisando trabalhar com os Vingadores, acaba assumindo a
personalidade do Homem-Aranha, Capitão América e Wolverine. E para constar, é
essa mini-serie que precede a história que falarei hoje.
Introdução e personas a parte, vamos começar.
Até o volume 9, o quadrinho é escrito por
Warren Ellis e desenhado por Declan Shalvey e Greg Smallwood. Cada volume é
sobre um caso diferente, quase procedural, porém, além dos crimes mundanos,
também há os mistérios sobrenaturais. Mais que alguém espancando criminosos,
ele é um investigador brilhante e é esse aspecto que é trabalhado muito bem
aqui. É legal que ao investigar cenas de crime, o Cavaleiro da Lua assume a
identidade de Mr. Knight, que usa somente um terno e máscara brancos – e
arrogância refinada. Visual extremamente belo e bem legal de ser ver nas páginas.
O Cavaleiro – ou seja lá quem for – enfrenta
fantasmas, assassinos, sequestradores e monstros. Todos os mistérios são
interessantes, e as lutas muito boas.
No quinto volume, Mr. Knight sobe os andares de um prédio abandonado para
resgatar alguém, e todos eles estão lotados de criminosos. Um a um, eles caem.
Quando via, ficava imaginado que se todas aquelas lutas fossem filmadas do
jeito que os desenhos mostram, teríamos algo no patamar de Daredevil - Demolidor. Os movimentos que ele faz, o estilo, tudo
parece ter sido coreografado, e eu nunca havia apreciado de verdade uma luta em
HQ até então.
O clima investigativo noir é presente na maioria dos volumes, o que nos faz ver mais o Mr.
Knight do que as outras personalidades. Não há casos muito complexos, mas eles
fecham bem, considerando que se desenvolvem por vinte e poucas páginas. Cada
volume é uma história separada, o que dinamiza a leitura. Um dos melhores
volumes, em minha opinião, mostra o Mr. Knight investigando por que pacientes
de um experimento sobre o sono passaram a ter os mesmos sonhos. Simples o
suficiente e com desenhos alucinógenos.
Então, temos a troca do desenhista, exatamente
no volume 9. A história não me empolgou como os outros volumes, mas gostei do
estilo do desenho. E nos volumes em diante, o desenhista é trocado novamente,
junto ao roteirista. Com uma nova equipe criativa, a ideia de um caso/mistério
é deixada de lado, e começamos a acompanhar um pequeno arco. Este é sobre o
passado da psiquiatra dele, e sua busca por vingança. Estende-se por alguns
volumes, e começa e termina bem, mas o que fica ali no meio parece... Sem
sentido nenhum. Há partes muito legais como Spector ser trancado num
“sanatório”, e mesmo assim, fica fraco até a revelação (e resolução) no final,
que pra mim, funcionou.
É claro, apesar das escolhas do roteiro,
gostei muito desse arco, principalmente pelo jeito de fazer a Arte. Durante uma
espécie de “hipnose”, por exemplo, vemos o Spector desenhado ocupando vários
quadros, e em cada um deles, uma parte da roupa diferente, mostrando as pessoas
que o formam. E como ele está em sua própria mente, faz sentido ele não ter uma
forma fixa lá. Certamente, um dos melhores volumes do arco, junto ao volume em
que ele se vê preso num sanatório. Como não li outras HQs dele, não tenho
certeza, mas tive a impressão de que ele já estivera em sanatórios ou
instituições antes. (Pelo sim e pelo não, Spector acorda numa Instituição
Mental misteriosa na publicação desse ano, e só pelo primeiro volume – e Arte
Excelente -, recomendo muitíssimo).
Depois, tiveram a ideia de voltarem aos
casos/mistérios por capítulo. A história e arte ficaram medianas, mas ao
chegarmos aos últimos volumes, percebemos o quanto a publicação caiu. O último
é muito ruim, e nem parecia fazer parte da publicação que tinha tanta
qualidade. Mas não significa esquecer-se do quão bom é o começo, mas tentar não
se decepcionar tanto, pois sabemos que a culpa pertence a tantas mudanças
dentro da equipe.
Enfim, simplesmente adorei Spector e suas
histórias, o estilo de Mr. Knight e os mistérios. A posição dos quadros também
é muito boa, dão uma ideia cinematográfica que ajuda na qualidade da Arte e no dinamismo
da leitura. Para quem conhece por cima o personagem – o que basicamente, tentei
fazer aqui – essa história pode ser um bom começo para aqueles que querem ler
mais sobre o Cavaleiro.
E é claro, não posso deixar de lado que a adorada
Netflix comprou os direitos do personagem junto com os do Punisher e outros heróis, e ao que tudo
indica, ele terá sua própria série na Netflix, depois da série dos Defensores e, provavelmente, também depois
da série do Punisher-Justiceiro. Interessante
que em grande parte do quadrinho, pensei — junto com outros leitores – que a
história tinha o estilo desse tipo de seriado, e vários volumes dariam bons episódios.
Esperemos que aconteça!
A publicação do Cavaleiro da Lua de 2016 está
em andamento e, como eu disse, vale muito a pena! Seria uma continuação dessa
história, mas com uma Arte de uma verdadeira Graphic Novel (novela gráfica). Intrigante e provavelmente ainda
falarei sobre.
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