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Meus pés tocavam o chão de tatame da mansão Kuchiki, sem emitir nenhum som. Era tarde. Umas duas horas da madrugada. Ou cedo, dependendo do ponto de vista. O silêncio era irritante. Fazia a mente funcionar. E eu não queria pensar. Isso era algo que eu estava evitando há algum tempo. Mas evitar pensar em um assunto era como tentar agarrar água com as mãos. Como assistir um filme de terror e tentar não se lembrar dele quando se está sozinha em algum lugar escuro. Simplesmente impossível.
Lembrei-me do que aconteceu, nesse mesmo dia, há um ano.
Naquela época eu estava decidida a acabar com o meu tormento.
Entrei no quarto do meu aniki.
Ele estava ajoelhado de frente para aquele altar, onde ficavam as fotos da Hisana.
Ajoelhei-me próxima a entrada e abaixei minha cabeça. Dessa vez não ia comunicar o sucesso de alguma missão, nem dizer que tinha subido de posto no meu esquadrão.
“Aniki, quero fazer um pedido a você.”
“Fale.”
“Eu, Rukia, quero ser expulsa do clã Kuchiki.”
Ele olhou-me de relance. Esse movimento foi tão rápido, que pensei tê-lo imaginado.
“Por quê?”
Se eu demorasse mais um segundo para responder, não teria coragem para falar o motivo. Então falei de uma vez:
“Porque eu estou apaixonada pelo meu irmão.”
Silêncio.
Meu lado mais covarde me dizia para fugir dali. Sentia-me humilhada pelos meus próprios sentimentos e por admiti-los em voz alta.
Não, Rukia. Você tem que ficar e escutar a resposta, não importa qual seja ela. Repeti para mim mesma.
O que será que se passa na cabeça dele agora? Deve ser algo do tipo: O que eu faço? A irmãzinha da Hisana está apaixonada por mim. Prometi que cuidaria dela. Não poderei mais cumprir minha promessa. E outras coisas estupidamente nobres.
Passaram-se 150 segundos. Sim, eu contei. Quando se está desesperado, o tempo leva uma eternidade e só para saber o quão eterno é isso, eu conto. Não sairei daqui sem uma resposta.
Resolvi chamá-lo pelo nome. Nunca tinha feito isso antes, talvez surtisse algum efeito.
“Bya...”
“Então…” Ele interrompeu-me “…eu também deveria ser expulso do clã.”
Ele também...? Meu rosto tinha congelado em uma expressão chocada. Meus olhos estavam arregalados, minha boca aberta. Queria perguntar muitas coisas. Eu entendi certo? Ele me ama? Desde quando ele me ama? Por que nunca me disse nada? O que vamos ser um para o outro agora? Meus lábios não se mexiam. Esqueci como se usam as cordas vocais.
Ele levantou-se e caminhou lentamente em minha direção. Meu coração estava acelerado. Não me movi. Byakuya passou direto por mim e saiu do quarto, sem olhar-me.
Depois disso, ele sempre me evitava. Nunca ficava sozinho comigo. Sempre tinha algo para fazer como capitão do 6º esquadrão. Não que ele me desse satisfações. Eu perguntava para o Renji, e ele sempre dizia que “o Taichou está fazendo isso” ou “o Taichou está fazendo aquilo.” Ocupado. Ocupado. Ocupado.
Sabia que ele estava me evitando. Deve ser por causa de todo o orgulho Kuchiki que ele carrega. Odeio isso. Regras? Que se danem elas. Eu só queria ser feliz. Se eu o amo e o sentimento é recíproco, deveríamos ficar juntos. Isso é o certo.
Mas não para ele.
Byakuya era realmente bom em nunca estar no mesmo local que eu. Por mais de dois meses não o vi, a não ser de longe.
Resolvi dar um tempo. Fui para Karakura.
Até mesmo o Ichigo percebeu que eu não estava legal. Comentou que eu estava muito quieta. Pensei em falar com ele, mas ele não entende nada de relacionamentos. Se entendesse, já teria admitido para si mesmo que gostava da Inoue. Não insistiu para que eu contasse o que estava me incomodando. Sabia que não eu diria nada.
Andei sem rumo pelo mundo humano. Matei alguns Hollows. Visitei o Urahara – na verdade, visitei todos os meus amigos daqui de Karakura.
Fazia tudo tão automaticamente, que nem percebia o tempo passar. Foi a Yoruichi quem me convenceu a voltar. Encontrei-a um dia que fui visitar o Urahara. Acabei contando algumas coisas para ela, e ela acabou deduzindo o resto. Disse que eu deveria demorar um pouco para retornar para a Soul Society. Assim, meu aniki ficaria preocupado comigo. “Ele vai sentir sua falta.”, ela disse. Esse era o objetivo.
Voltei para Gotei 13. Tinham se passado 10 meses desde aquela revelação. Mas – adivinhe só – ele não parecia nenhum pouco preocupado quando cheguei de surpresa. Nem me perguntou onde eu estava. Era como se eu nunca tivesse saído dali. Essa constatação doeu em mim. Percebi que nada havia mudado.
Para fugir da frustração, fiquei treinando com a minha zanpakutou no meu próprio esquadrão. Voltei bem tarde para casa. Não queria ver o meu aniki.
À noite, chorei como nunca tinha chorado em toda a minha vida.
Em certo momento, pensei ter visto um vulto do lado de fora da porta do meu quarto. Talvez...
Abri a porta.
Não tinha nada ali. Estava ficando paranóica. Quem iria ali naquela hora? Era tarde da noite, e eu chorava baixinho. Quem me ouviria se todos dormiam?
Voltei para a cama e continuei me desmanchando em lágrimas, até não aguentar mais.
Depois disso, tomei uma decisão. Se ele era forte o suficiente para ignorar os próprios sentimentos, então eu também seria.
Passei a agir como ele. Estava sempre no meu esquadrão. Sempre ocupada. Chegava tarde, saía cedo. Não o procurava. Meu coração estava esfacelado. E doía tanto, tanto. Com ele aguenta? Ah, não importa. Se ele consegue, eu também consigo.
E até hoje, essa é a minha rotina. É por isso que estou chegando em casa as duas da madrugada. Nem teria me lembrado dessas coisas do passado, se hoje não fosse o mesmo dia em que – um ano atrás – descobri que meu aniki me amava.
Deve te amar muito mesmo! Pensei irônica.
Por que eu tenho que passar pela porta de seu quarto, para chegar até o meu? Essa mansão é imensa. E quase todos os quartos estão vazios. Então porque o meu quarto tinha que ficar justamente no mesmo corredor que o dele?
Continuei o meu caminho, sem sequer olhar para a porta de seu quarto.
Pela minha visão periférica, vi um rápido movimento.
A porta do quarto dele se abriu, ele segurou meu braço, me puxou para dentro e fechou a porta novamente.
Isso tudo aconteceu tão rápido, que quando dei por mim, já estava encostada na parede de seu quarto, seu corpo comprimindo o meu.
Senti-me pequena, perto dele.
“Byakuya?”
Ele não respondeu. Não precisava. Eu sabia que era ele.
Seus lábios tomaram o meus com urgência. Retribui o beijo com a mesma necessidade primitiva.
O que está acontecendo? Será que agora ele cansou de fugir do que sente? Não faço à mínima. Mas não quero que ele pare.
“Rukia...”
Procurei seu rosto com os olhos. Estava escuro, não consegui ver sua expressão.
“Me desculpe.”
Não! Ele não estava pedindo desculpas por causa do que acabou de acontecer entre nós! Ele finalmente resolve demonstrar de alguma forma que realmente gosta de mim, e acha que pode simplesmente pedir desculpas e assim passar uma borracha sobre o que aconteceu? Eu não queria acreditar.
Nesse momento, eu nem pensei em como deveria ser difícil para ele, passar por cima de seu orgulho para pedir desculpas para mim. Senti as lágrimas brotarem de meus olhos. Com ele podia fazer isso comigo?
“Não chore.” Suas mãos secaram as lágrimas que rolavam pela minha face.
“Como posso não chorar? Não aguento mais essa situação! Eu vou embora daqui. Vou sumir da sua vida.”
Ele ainda me mantinha firme contra o seu corpo.
“Eu preciso...” Sua voz era hesitante “...de você.”
Eu o ouvi direito? Ele precisa de mim?
“Agora escute.” Sua voz tinha um tom autoritário.
Obedeci.
“Achei que não seria certo. Tentei te evitar. Talvez você começasse a gostar de outra pessoa. Não fui tão forte. Vou ter que quebrar as regras novamente. Preciso ter você ao meu lado.”
“E a Hisana?” Perguntei.
“Eu a amei, enquanto estávamos casados, e até muitos anos depois. Não a vejo em você, se é o que pensa. Eu amo você. E tentei lutar contra isso. Durante muitos anos, quis me convencer de que eu via a Hisana em você. Mas não era isso. Eu amava você, Rukia. E aquele dia em que vi você chorando por causa de mim... Devia ter levado seus sentimentos em conta. Se eu tiver que sair do clã Kuchiki para ficar com você, então o farei.”
Eu estava muito feliz. Ele deve ter pensado em tudo isso durante muito tempo. Sua voz não demonstrou dúvida em nenhum instante.
“Você está falando muito.” Eu disse para ele.
“É mesmo?”
Ele calou-me com um beijo. Naquele momento eu tive certeza. Ele me ama e nós vamos ficar juntos para sempre.
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