Imperdoável: história boa, mas mal executada

Okay Okay entretenimento

Começou assim: eu entrava no Twitter, e estavam falando sobre Imperdoável. Entrava no Instagram: Imperdoável. Colocava um vídeo para carregar no Youtube? Imperdoável. É claro que com nomes de peso como Sandra Bullock e Viola Davis, o pessoal ficou todo alvoroçado. Inclusive, essas duas foram basicamente as únicas personagens que vi antes de realmente assistir o filme, e qual foi a minha surpresa ao perceber que a trama não era realmente em torno delas? 

Antes de continuar a leitura, já aviso: contém spoilers. Eu não conseguiria apontar os pontos fracos e fortes sem contar as cenas equivalentes.

Comecemos pelas coisas boas.

As atuações nesse filme são exepcionais, não apenas dessas duas atrizes que citei, mas do elenco como um todo. A história é muito boa e quando o plot twist surge, tudo que o expectador consegue pensar é "Nossa! Agora sim tudo faz sentido!". Os motivos reais por trás da prisão de Ruth são bem mais nobres do que parecem a princípio. 

Algumas personagens são muito bem construídas, como a protagonista e a Emily (Emma Nelson), irmã de Katherine (Aisling Franciosi), sendo esta última a irmã de Ruth. Mesmo antes de descobrir o real motivo e crime de Ruth, é fácil se identificar com ela e sofrer junto ao seu lado as consequências de ser uma ex-presidiária.

Pelos trechos divulgados em redes sociais, e com a sinopse "Livre da prisão e sem o perdão da sociedade, uma mulher condenada por assassinato decide procurar a irmã que deixou para trás." (Netflix), entendi que de alguma forma, essa irmã perdida e a personagem da Viola estavam ligadas. Mas não estão.

Ruth (Sandra Bullock), sai da prisão após cumprir 20 anos de pena. Tudo que ela quer é reencontrar a irmã que tinha apenas 5 anos quando ela foi presa. Veja bem: isso está na sinopse do filme, logo a expectativa do leitor é esse reencontro. Que, nesse filme de quase 2 horas, acontece nos minutos finais. Sim, você não leu errado.

Dois personagens que aparecem desde o princípio são os irmãos que ficaram órfãos com o crime de Ruth. Um deles, bem esquentado e raivoso, quer a todo custo punir Ruth, pois para ele, 20 anos de prisão não repararam sua perda. O outro, centrado e racional, fala sobre como a vingança é inútil e que ambos devem seguir com sua vida. O primeiro irmão vive estalqueando a Ruth, mas é o segundo irmão que, em uma conversa totalmente fora de contexto, decide que ela não se arrepende do que fez e decide que devem, sim, fazer algo sobre o assunto. A cereja do bolo é quando o irmão centrado pega sua esposa na cama com seu irmão esquentadinho e decide sequestrar a irmã de Ruth. 

Conversei com algumas pessoas que acharam essa reviravolta um ato de rebeldia genuíno devido à traição sofrida, mas não consigo deixar de pensar em uma quebra de personagem. Se fosse o outro irmão, eu entenderia, mas este? Sei lá, pareceu inverossímel. 

O maior defeito da história, para mim, foi a extrema lentidão com que as coisas acontecem. Ele é um filme muito parado e chega um momento que você fica se perguntando se a história realmente está indo para algum lugar. Por outro lado, cenas que poderiam ter sido melhor exploradas, são corridas, como acontece com o encontro de Ruth com os pais adotivos de Katie. Nessa conversa, aliás, Ruth não pergunta muitas coisas sobre como a irmã está, sendo seu interesse reduzido em uma única pergunta "Ela tem dormido bem?". Detalhe: o problema de Katie para dormir, até então, tinha sido muito bem construído na história para ser devido ao trauma do assassinato cometido por Ruth. E do nada -BAM- ela sempre teve esse problema que nunca foi mostrado.

Eu particularmente tenho raiva de autores que enfiam uma informação no meio da história e querem agir como se esse fato sempre estivesse lá, quando isso não foi mostrado em momento nenhum da história. Parece uma desculpa, do tipo "Hum, você estava se achando o espertinho, mas não pensou nesse motivo aqui que, a propósito, acabei de inventar". O trauma da menina estava bem construído e, sério, não eram necessárias tantas cenas repetidas do mesmo momento para que isso ficasse claro para o expectador. Mas lá estavam as cenas, lá estavam os motivos expostos à exaustão, e do nada, com uma simples frase de Ruth, você se questiona por que então o filme ressaltou tanto um motivo falso para um problema pré-existente que nunca foi mostrado antes.

Katherine, aliás, é uma personagem secundária, que só está ali porque Ruth precisa encontrar a irmãzinha que criou como a uma filha. Ela praticamente não tem fala e o reencontro de ambas é também assim, mudo. Emily move muito mais a história do que Katherine e é ela que é sequestrada por engano pelo irmão centrado.

Para mim, esse filme poderia ser mais curto, algumas cenas emocionais deveriam ser melhor trabalhadas e por se tratar de um drama, as personagens mais profundamente envolvidas na história tinham que ser melhores trabalhadas tanto individualmente, quanto na relação entre si, para que nas cenas de drama o expectador pudesse sentir aquilo mais profundamente.

Eu sou uma chorona, a famosa "chora até em comercial de manteiga" e não consegui sentir fortes emoções nesse filme. Para mim, ele está sendo superestimado e eu daria uma nota 3. 

Assistam por sua conta e risco.



Imperdoável: história boa, mas mal executada Imperdoável: história boa, mas mal executada Reviewed by Thaw on dezembro 27, 2021 Rating: 5

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