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| Corse |
Estava sendo um dia de merda. Sabe um daqueles dias que você já acorda mal e com o sentimento de que seria melhor nem sair da cama? Um desses.
Para começar, estava menstruada. O que não seria um problema se eu e meu marido não estivéssemos tentando engravidar por cerca de 6 meses, sem sucesso. Com o meu período, vinha também as dores na lombar, as cólicas infernais e o humor depressivo.
A próxima coisa que aconteceu foi minhas roupas todas molharem no varal. Estava sendo uma estação extremamente chuvosa e qualquer mínimo momento de não-chuva tinha que ser aproveitado para tentar diminuir a eterna e gigantesca pilha de roupas sujas que só aumentava. E hoje, milagrosamente, o sol decidiu aparecer, lavei o máximo de roupas que minha máquina aguentava e coloquei tudo no varal antes de sair na minha moto para buscar meu marido no trabalho. Eu estava há mais de 2km longe de casa quando as primeiras gotículas de água começaram a cair 一 uma garoa fina que se tornou em tempestade em poucos segundos.
Ah, sim, como o céu estava azul e praticamente sem nuvens, achei uma ótima ideia sair sem capa de chuva, não havia trazido nem a do meu marido. Eu já estava ensopada, e quando ele saísse do trabalho, ficaria em situação parecida.
Parei na frente do trabalho dele. A chuva não parava por nada e o sistema de escoamento praticamente inexistente nessa cidade contribuía para que as águas se acumulassem na sarjeta e em seguida invadissem as calçadas e uma boa parte da rua também.
Era para ele ter saído 10 minutos atrás. Imaginei que pudesse estar preso em alguma reunião. Peguei meu celular para ligar, tentando protegê-lo do aguaceiro e contando com a promessa de ele ser resistente à água. Procurei na lista de contatos favoritos, mas só constava o número da minha mãe. Achei aquilo muito estranho. Será que eu tinha movido ele da lista sem perceber?
Comecei a rolar a minha lista de contatos, procurando pelo nome dele e senti uma pressão estranha no estômago e um gosto ruim na boca. Por que não acho o contato dele? Nem jogando o nome na lupinha de busca consegui encontrar.
Minhas mãos estavam escorregadias de chuva e suor. Meus olhos coçavam e sentia a pulsação do meu coração na garganta.
Um alívio súbito me atingiu quando o pessoal começou a sair. Corri até uma conhecida que também trabalhava ali.
一 Oi! Você viu meu marido? Ele não saiu. 一 Gritei por cima do barulho da chuva, enquanto corria junto com ela para uma marquise que a protegeria da chuva até que seu Uber chegasse.
Protegida da chuva, ela me olhou por segundos que pareceram uma eternidade. Parecia sentir pena antes de responder:
一 Que marido? Você não casou de novo depois que o Daniel morreu.
Pisquei várias vezes, lembrando. Subi na moto e fui embora sem saber como me sentir.
Realmente, um dia de merda.
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