BBC: Fansided |
É unanime que a 11º temporada não foi a melhor temporada. Na verdade, muito pelo contrário. Steven Moffat era um showrunner que eu queria que saísse e quando finalmente aconteceu, fiquei aliviada. Tenho muitos problemas com Moffat, o jeito que ele ignorou a Era RTD, a demasiada importância ala Mary Sue de Clara Oswald, o jeito patético que ele escrevia mulheres e como ele tentava criar personagens gays puramente pelo marketing mesmo que seu desconforto em escrevê-los fosse óbvio. Então foi natural eu comemorar a saída dele, apesar dele ser um escritor de plot brilhante (inclusive, todo mundo concorda que ele é um excelente escritor de episódios, mas péssimo para montar temporadas). O problema foi que o substituo era Chris Chibnall.
Chibnall não é um escritor de ficção-científica. Os episódios que ele escreveu para Doctor Who antes, eram todos dolorosamente medianos ou ruins. RTD, o primeiro showrunner, não era exatamente um escritor brilhante em todos os episódios, mas era bom em montar temporadas e conseguia escrever episódios sensacionais quando queria. Midnight é uma obra-prima feita por RTD, um nível de escrita para Doctor Who que Chibnall nunca alcançou. Assim, nossa esperança fosse que Chibnall, pelo menos, fosse bom em criar um arco de temporada coeso, e quem sabe, surpreendesse com bons roteiros. Bem, nada disso aconteceu.
O primeiro episódio da S11 foi mediano. Alcançou a maior audiência da história da new Who, pois todos queriam ver a Doutora. Era a oportunidade de fazer todo voltar se apaixonar e acreditar na série. Mas escolheram fazer algo mediano. A história deles detectando aliens em Sherfiled foi uma boa introdução de personagens, o que poderia ser o suficiente se não estivéssemos falando da introdução de um novo Doutor. Em menos de uma hora, fomos apresentados a quatro possíveis companions, ao vilão e à Doutora. Da última vez que tivesse um novo Doutor e novos companions apresentamos em um episódio, foi em The Eleven Hour, o primeiro da 5 temporada. Nele, conhecemos a 11º encarnação e apesar de sermos apresentamos a Amy, nosso foco é o Doutor. Nós o vemos passar por todos os sintomas da pós-regeneração, o vemos se encontrar, a aprender sobre seu novo rosto, a dar sentido as suas memórias e existência. Então, quando no final ele finalmente diz que a Terra está protegida, nós sabemos que ele é o Doutor, acreditamos nele. Eu tenho muitos problemas com o 11º, mais por conta do Moffat do que pelo Doutor em si; e mesmo assim, preciso admitir: ele foi o Doutor desde o primeiro episódio.
E a 13º?
Chibnall tentou dar a mesma importância para todos os personagens e plots, o que fez a Doutora ser só mais um elemento no episódio, tanto que passamos uma boa parte no começo em que a Doutora não aparece. São minutos e mais minutos mostrando novos personagens e preparando o terreno para o plot, sem nem sinal da Doutora. Foi um erro. Assistir um novo Doutor é sempre complicado, pois além de estarmos apegados ao anterior, a pós-regeneração é sempre psico e fisicamente difícil, fazendo com que o novo Doutor ainda não tenha uma personalidade definida. É divertido ver o Doutor grogue, mas ao mesmo tempo, sabemos que conhecê-lo de verdade vai demorar. Então é natural que eu não a conhecesse no primeiro episódio, até pelo fato da amnésia (odeio quando insistem em amnésia).
Os episódios seguintes podem ser divididos em duas categorias: episódios bons/decentes e episódios escritos por Chibnall/ruins. O que fazer quando o showrunner escreve os piores roteiros? O que fazer quando são os roteiristas convidados que escrevem as únicas coisas decentes? Devo dizer que estou bastante preocupada com as futuras temporadas e como outras, rezando para que Chibnall só administre os escritores e rascunhe arcos e não escreva nenhum episódio. Sim, estamos rezando para que o showrunner não escreva. Essa é nova.
Chibnall tem episódios extremamente simples. A premissa interessante, mas execução extremamente entediante. Sim, Doctor Who, a série que se passa em todo o tempo e espaço, a série onde absolutamente tudo pode acontecer, ficou chata. É normal um problema de ritmo em momentos de um episódio ou de outro, mas em todos os episódios de Chibnall? O que está havendo? Eu não ligo para episódios ruins em Doctor Who, admito as falhas e vez ou outra, me irrito, mas sigo em frente, pois apesar das falhas, eu me divirto. Doctor Who é bizarro por natureza, então, mesmo com histórias ruins, ficamos entretidos. A 11 temporada, no entanto, não consegue fazer isso apropriadamente. Parece a primeira temporada de uma série simples (e tecnicamente, é aquele tipo de temporada em que pessoas que nunca viram Doctor Who, podem ver sem problemas, assim como a 1º, 5º e 10º temporadas). Mas para nós, quem já assiste há anos, ver uma temporada em que a própria Doutora é deixada de lado, nem parece protagonista de sua própria série, é revoltante.
A Doutora não teve seu arco, não teve lutas internas, não teve problemas, não tem profundidade. Ela é feliz e animada, gosta de explorar... após três doutores com suas próprias dificuldades, ela é... de boa com tudo. Chibnall não escreveu nada demais para ela, todos os esforços dele foram para escrever a relação entre Ryan e Graham, o que fez com que a Doutora se tornasse uma sub-personagem fora da trama principal. Ela estava lá, mas nada girava em torno dela.
A ideia de 3 companions não foi executada de uma boa maneira. Se a ideia era criar uma família para a Doutora, não deu certo, mesmo com a insistência da Doutra dizer a todo momento que eles são melhores amigos e "família", pois como a série não mostra o desenvolvimento da relação deles, é necessário que a Doutora diga.
Yas não tem um motivo para viajar com a Doutora. Claro, sejamos sinceros, eu, como praticamente todo mundo que assiste, não precisaria de muitos motivos para viajar. Nós faríamos as malas ao primeiro sinal da TARDIS. No entanto, falando de uma personagem lá de dentro, fica esquisito ela aceitar do nada. As pistas que temos é que a vida dela é um tédio (ok, 95% das pessoas acham isso da própria vida, então...) e que Yas acha a Doutora maravilhosa. E é isso. Até aí, tudo bem. Mas ela poderia ser trocada por um objeto que não faria diferença. Ela não é nada, infelizmente. Não sei porque Chibnall a colocou neste temporada se ela teve impacto zero nos episódios. Sua participação foi tão sem utilidade que a única coisa que tinha pra discutir era num possível romance entre ela e Ryan ou entre ela e a Doutora, mesmo que sem nenhuma chance de nenhum deles acontecer.
Diferentemente de Yas, Graham e Ryan tem mais importância na TARDIS já que eles tem seu próprio arco de personagem. Ryan seria o neto de Graham, pois sua avó havia se casado com ele, e todo o argumento é que Graham quer ser aceito por Ryan, agora mais do que nunca porque a avó de Ryan morreu. Assim, ambos recorrem as viagens com a Doutora para superarem o luto e se reaproximarem. Isso é uma boa premissa de personagem e é satisfatoriamente desenvolvida ao longo dos episódios, mas que em nenhum momento se liga à Doutora. Temos o plot interessante envolvendo Graham e Ryan como a melhor coisa da temporada e sem envolver a Doutora, que diga-se de passagem, deveria ser a protagonista de seu próprio show.
O final de temporada foi nada menos que frustrante. Uma decepção. Com os episódios passando, ficávamos cada vez mais preocupados, pois parecia que não havia nenhum arco e toda a temporada era composta por filler, histórias soltas. Mas confiamos. Em vão. A season finale não parecia uma season finale. Como todos os outros, parecia um filler. Sabe, aquele episódio que você pode pular e não vai fazer diferença? Cada episódio foi escrito para as famílias britânicas poderem ver na hora sem se preocupar com episódios passados, uma aventurazinha em cada um. Após dez temporadas com arcos e mistérios muitas vezes grandiosos, a 11 é um banho de água fria.
Apesar de ter salvado a audiência e recuperá-la, Chibnall dá todas as razões de que infelizmente, ele é um ótimo escritor de drama, mas não de Doctor Who.
Nenhum comentário: