De eras em eras, nascia uma criança especial, portadora de
todo o sofrimento do mundo. Entretanto, receber tal criança no seio familiar –
ou na sua comunidade de origem – não era uma das tarefas mais fáceis. Graças ao
alto grau de dificuldade para lidar com toda a dor carregada por esse
indivíduo, ele geralmente era rejeitado e abandonado, e a Morte o carregava, e
acumulava esse e todos os outros flagelos vividos pela sociedade para
posteriormente depositar tudo em uma nova criança.
E foi assim que em uma cidade extinta e longínqua nasceu o
Menino.
Seus pais logo notaram que havia algo errado com ele, pois
era um bebê que chorava muito e não importava o que fizessem, continuava a
chorar e suspirar em lamentos de cortar o coração. Não demorou para que os
vizinhos notassem a estranheza da criança e o quanto sua presença provocava
aflição. Os pais do menino, entretanto, desejaram tanto aquela criança e a
amaram tanto, que suportavam toda a dor do Menino e devolviam tudo em forma de
amor.
Com isso, o bebê foi crescendo até se tornar um garotinho.
Ainda ostentava um pesar nunca antes visto na face da Terra, mas a devoção e
estima de seus pais arrancavam lasquinhas dessa crosta de amargura que o cobria.
Porém, cada vez que ele se tornava um pouco menos infeliz, algo ruim acontecia.
Pequenas pragas ou doenças tomavam conta da cidade, e conforme o tempo passava,
as pessoas passaram a ver o Menino como uma ameaça.
Em um dos aniversários do Menino, os pais lhe prepararam
guloseimas deliciosas e um pequeno bolo, e comemoraram de forma tão bela, que
pela primeira vez rolaram, pela face rechonchuda e inocente, gotinhas de
felicidade.
Nesse mesmo dia, uma enfermidade catastrófica matou mais da
metade das crianças da cidade. Revoltados, os cidadãos se reuniram e invadiram
a casa daquela pequena família e tiraram o Menino deles. Após terem feito isso,
trancaram todas as entradas e atearam fogo no casebre, para se certificar de
que aquele casal nunca mais colocaria no mundo crianças como o Menino.
A criança teve seu corpo coberto por bandagens, de forma que
parecia-se com um pequeno casulo – embora ele soubesse que seu destino não
seria se tornar livre como uma borboleta. Por trás da faixa, apenas seus olhos
grandes e expressivos não estavam cobertos. Mas mesmo que ele não pudesse ver,
ainda ouviria os gritos lancinantes de dor de seus pais, enquanto chamavam seu
nome, através das chamas que consumiam sua morada.
A imensa miséria espiritual com a qual estava habituado não
era nada comparada ao que sentia com o padecimento de seus pais e a impotência
por não poder fazer nada para salvá-los.
Seus olhos, naturalmente dourados, se tornaram de um
vermelho tão vivo quanto o das labaredas que lambiam os restos do lugar que um
dia chamou de lar. Seu pesar natural se tornou algo pesado e rubro em um misto
de animosidade e horror.
As faixas nas quais seu corpo havia sido enrolado se
desprenderam em uma explosão e um círculo gigante e paralisante tirou a vida
daqueles que o rodeava. E mesmo após isso, a agonia de sua alma continuava e
suas lágrimas machucava a todos que se aproximassem. Durante o tempo que vagou pela cidade,
apenas morte e sofrimento o rodearam. Até que alguns dias após a morte de seus pais,
seu corpo pequeno caiu e a vida passou a fugir-lhe aos poucos. Estava padecendo
de inanição.
Vendo-o desmaiado, as poucas pessoas que restaram na cidade
cavaram uma cova profunda e jogaram seu corpo lá. Ainda com resquícios de vida
em seus olhos, o Menino pode ver e sentir o peso de cada nova pá de terra
jogada sobre ele.
Quando a Morte veio lhe buscar, no intuito de completar o
ciclo da criança que nasce com todo o sofrimento do mundo, não pode carregar-lhe a
alma. O amor verdadeiro que conheceu em vida somado ao hediondo
fim de sua alma inocente, aprisionou para sempre a dor naquele pequeno coração.
Não podendo cumprir seu papel, a Morte retirou o pequeno corpo, que agora
dormia calmamente, e o depositou em uma pirâmide da cidade de Shurima. E, uma
vez que teria para sempre o sofrimento do mundo aprisionado em seu ser, a Morte
levou dele as lembranças que teve em vida. Mas uma era tão forte, que nem mesmo
a morte era capaz de apagar: era voz de seus pais, enquanto morriam, sussurrando seu nome “Amumu…”.
Gostei muito da dramaticidade que você deu a história do Amumu. Espero que se anime para escrever mais sobre os personagens do LOL. Beijos see you
ResponderExcluirObrigada. Sempre achei que a história do Amumu deixava a desejar. Se a inspiração me visitar com mais frequência, eu escrevo sim. hahaha Bye >3<
ExcluirGostei muito da dramaticidade que você deu a história do Amumu. Espero que se anime para escrever mais sobre os personagens do LOL. Beijos see you
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