O que achei do último filme da trilogia 50 tons de cinza


Duas semanas atrás fui ao cinema assistir o filme Cinquenta tons de liberdade e demorei todo esse tempo para escrever porque estava muito em dúvida sobre como me expressar – na verdade ainda estou, mas se não escrever agora, não escreverei nunca.

Creio que quem lê um livro e vê uma adaptação para o cinema tende a achar o livro melhor do que o filme, e é claro que não foi diferente dessa vez. Desde o primeiro filme senti que algo essencial estava se perdendo. Mas afinal de contas, que coisa seria essa?

Você provavelmente ouviu que Anastácia e Christian vivem um relacionamento abusivo, e não tiro a razão desse discurso. Além disso, fala-se muito também das “agressões” que Ana sofre por parte de Grey. Calma que já explico as aspas. E é claro, a história reforça os clichês da garota sem graça que se casa com o cara rico e lindo; de certa forma, o encontro com o príncipe encantado e o felizes para sempre. E, o último fato, 50 tons é uma fanfic da saga Crepúsculo. E a partir daqui vamos por partes não cronológicas.

Fanfic. Se você viveu a febre Crepúsculo através de fanfics se lembra do caráter sexual da grande maioria das histórias – e de como adorava consumi-las. Cinquenta tons tem muito sexo porque era isso que gostávamos de ler, concordam? Gente, eu fui ficwriter, eu lembro como era. Eu vejo que muitas pessoas se incomodam com essa parte da história, e uma pessoa chegou a me dizer que o sexo era “um recurso baixo para vender a história”. Eu disse para essa pessoa “pessoa linda, você consome pornô!”. Sinto que o sexo em 50 tons incomoda, porque é para mulher. E isso me obriga a ir para as agressões entre aspas.

BDSM é uma prática sexual entre adultos que não foi criada pela E.L. James. Ela apenas pegou essa prática e colocou em sua história. Ah, e outra coisa: o Grey praticava isso com suas submissas mas com a Ana, não. Se você leu a história sabe que ele realmente a agrediu uma única vez, porque ela gostaria de saber como seria fazer parte desse mundo e ela não gostou nada. Então, ela foi embora. E ele resolveu tentar um relacionamento mais tradicional. Tinha sexo? Sim. Rolava alguns tapas, amarras, etc? Sim, e aparentemente, a Ana gostava disso. E eis um ponto nessa discussão que me incomoda. Achei que a essa altura do campeonato o pessoal já tinha entendido que não existe uma forma certa de viver, que o que importa é o que te faz feliz. A Ana era feliz – sexualmente.

Sim, eles tinham um relacionamento abusivo, mas na minha concepção, isso não acontecia na cama. O Grey gostava de ter controle sobre a Ana, era muito ciumento e possessivo e muitas vezes nada sensato em suas imposições. E independente de ele ter motivos para ser assim, fico triste por ter sido uma mulher a perpetuar a normalização de um relacionamento assim. Mas a Thaw adolescente adorou, porque ela fazia coro àquelas crenças e achava que ciúmes era sinônimo de amor. Li todos os livros, assisti todos os filmes – e vou comprar Mais Escuro assim que eu puder. Por isso relutei tanto em começar esse texto – sou dividida nessas questões. E é sério, eu realmente gosto da história, gosto da evolução das personagens e gosto tremendamente do drama.

Ah, é isso.

Eu senti falta do drama nos filmes. Em todos, mas especialmente no último em que o Grey fala sobre os abusos que sofreu tanto quando era adolescente, quanto os de sua primeira infância. O Grey é uma personagem sofrida demais, com uma vida sofrida demais e muito sequelada com tudo isso. Ele tem dinheiro, mas não tem maturidade emocional e canaliza isso no sexo. Até encontrar uma pessoa que o obriga a tirar os fantasmas do armário e encará-los. No filme, as coisas são jogadas. De repente eles estão visitando o túmulo da mãe biológica de Grey, sem nenhuma informação adicional sobre isso. E toda a curiosidade de Ana sobre como Grey começou a “se relacionar” com a Sra. Robinson sumiu sem mais.

Se você assiste o filme sente que parece um romance para adolescentes que pesou no sexo. Claro, há agora uma nova juventude. Eu dei meu primeiro beijo com a idade que muitas garotas são mães hoje. E a mensagem que eu vejo em todos os filmes é: “Olhe, você é nova demais para entender o quanto uma vida pode ser ferrada, mas fique com esse sexo aqui”. Como se os telespectadores não pudessem digerir o drama, as dificuldades e os sofrimentos. Como se a Ana não tivesse sofrido muito para chegar onde chegou, como se tivesse sido fácil se relacionar com alguém como Grey só porque ele tinha dinheiro.

Se você pretende ver o filme, ou se já viu, te indico fortemente que leia os livros. Mas leia com um olhar crítico. Crie sua própria opinião sobre isso, ao invés de se basear em qualquer vídeo ou texto – inclusive esse aqui. É tudo opinião e a melhor é sempre a nossa própria.

Agradeço muito quem leu até aqui e peço desculpas por não ter postado antes. Ah, e gostaria de convidar você a comentar nas postagens, se você gostou. Eu e a Alana não mordemos, juro.


O que achei do último filme da trilogia 50 tons de cinza O que achei do último filme da trilogia 50 tons de cinza Reviewed by Thaw on fevereiro 21, 2018 Rating: 5

2 comentários:

  1. Demorou mas saiu kkk brincadeira. Sua escrita está deliciosa! É incrível como você consegue escrever um texto melhor que outro lol Vamos para o que interessa kkk Eu acho a ideia inicial da história fantástica - eu falo melhor sobre isso em meu vídeo haha (Fazendo propaganda do meu canal hehe) - infelizmente, a autora não soube aprofundar nos temas ficando com um desenvolvimento ruim. Eu penso que seria um debate massa falar de uma personagem feminina passiva em pleno 2018, pois nunca se falou tanto em feminismo e papel da mulher na sociedade como nos ultimos anos. E é difícil achar um equilibrio entre dominação e opressão, não da pra ignorar o abuso e também não da para ignorar o prazer entre os dois. É difícil ter uma opinião formada sobre isso porque envolve a intimidade das pessoas. O respeito acaba esbarrando na preferencia sexual.
    Amei seu ponto de vista

    Beijos

    Beto

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    Respostas
    1. Muito obrigada pela visita e pelo comentário. Sim, eu acho que ela poderia se aprofundar mais em alguns pontos - aliás, vi seu vídeo :D Parando para observar desse prisma, ela pode ter pecado em querer falar de tudo e no fim, acabar não falando de nada. Mas eu realmente gosto do livro, apesar de muitos pontos me incomodarem tremendamente. Mas dos filmes não gosto não XD

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