Interagir com leitores e, principalmente, escritores iniciantes é algo muito interessante. Complicado falar disso porque também sou escritora iniciante em teoria, apesar de já escrever bastante há um bom tempo. E como aquele sonho louco de publicar o primeiro livro, vender milhões e ganhar adaptações no cinema já é uma fase que passou — vejo futuras publicações mais pautada na realidade — fica mais fácil perceber quando outros escritores fazem o mesmo.
Estive participando de grupos desse tipo nas últimas semanas. Gosto bastante deles. Como a facilidade de ler e escrever aumentou muito na nossa era, pessoas muito jovens já estão embarcando no mundo da escrita e isso é fenomenal. E junto disso, amizades feitas dentro deles transformam, em vários momentos, numa confraternização amigável, mais pautada em construir laços e divulgar o link do seu livro do que realmente melhorar enquanto escritor.
Explico.
Sabe aquela dica básica de não mostrar o livro que você acabou de escrever para amigos? O caso é que amigos próximos geralmente não entendem do processo de escrever um livro ou simplesmente não tem capacitada de montar críticas construtivas que podem ajudar o livro. E, como normalmente acontece, eles vão dizer que gostaram. É perigoso focar nos elogios dos amigos quando a única coisa que eles realmente se preocupam é em levantar sua moral. A menos que você tenha a sorte de ter um amigo escritor, leitor e sincero.
O que eu vejo, é que esse costume de mostrar o livro para o amigo e se cercar de elogios migrou para a internet. Seja em grupos ou não. Você mostra o seu livro, geralmente disponibilizado em plataformas gratuitas de livros, como o Wattpad, seus colegas virtuais leem e elogiam. O seu objetivo é que as pessoas falem do seu livro.
Sabe aquele ditado, “falem bem ou falem mal, mas falem de mim”? Certamente não se aplica aqui. Muitos escritores só querem ser lidos, nada mais. Navegando nesses grupos, percebi como é difícil às vezes conversar sobre literatura, sobre como podemos melhorar nossos livros, sobre os exageros, os erros, os problemas sem centenas deles virem reclamar que eles têm a “liberdade de escreverem o que quiserem”.
Primeiramente, você não deve nada a ninguém. Entretanto, isso só aplica aqueles que só escrevem por hobbie. Se você não quer publicar em uma editora, ou publicar em qualquer meio para ganhar financeiramente, saiba que pensar no leitor é fundamental. “mas eu escrevo para mim!!” Não, você não escreve para você. Você escreve para os outros. É por e pelos leitores. Caso realmente escrevesse por você (e acredite, há quem faça isso), então sugiro delicadamente que deixe seu livro numa gaveta ou numa pasta esquecida do word. Querer publicar é querer dá-lo ao leitor, então nada melhor que se empenhar ao máximo que sua mensagem chegue até ele com as mínimas falhas possíveis.
Escute, não é facilitar para o leitor. É escrever como costuma escrever, fazer o melhor possível, MAS também sabendo ouvir. Se alguém “entendido” do assunto aponta uma falha na sua história, seja um beta reader, ou até mesmo um leitor, escute-os. Em plataformas de livros, onde é comum que escritores publiquem gratuitamente e tentam formar público, há uma regra velada “se não gostou, não comente”, e em grupos na internet ela ainda é mais recitada. Quer ser um autor profissional? Esqueça isso.
Já ouvi que as únicas certezas que existem é a morte e a certeza de que ficaremos ofendidos com alguma coisa. As pessoas têm o direito de terem uma opinião assim como nós temos o direito de ficarmos ofendidos com elas. Veja bem: xingamentos e “críticas” odiosas não ajudam em nada a obra. O problema é que tanto elas quanto as críticas construtivas e “positivas” abalam os autores. Parece-me que dizer “seus personagens são um lixo completo” e “seus personagens precisam de um desenvolvimento melhor” para alguns escritores, tem o mesmo valor. E eu vejo isso como um problema.
Não digo que você é proibido de ficar ofendido. Todos ficamos ofendidos com críticas, construtivas ou não, somos humanos. A diferença é o modo como você as responde. Você pode se remoer e ao mesmo tempo tentar entender o porquê de tal crítica, qual o embasamento que o leitor (quem está criticando) pegou para formulá-la. A visão do escritor diverge da do leitor, e nesse caminho coisas são perdidas. O que parece interessante e óbvio durante a escrita, pode ser lento e confuso para o leitor, daí a importância de terceiros. OU, você pode se remoer e ao mesmo tempo não fazer nada exceto ignorar.
Eu sei que é difícil. Muito difícil. É muito mais fácil ignorar críticas e seguir fazendo o que lhe parece mais correto. E ignorar não é crime. O problema é que nem toda crítica serve, por isso você precisa pensar nelas bem para saber separar as que fazem sentido e as que não fazem. Crescer como escritor devia ser o principal objetivo de um autor, principalmente o iniciante.
Há alguns anos, escrevi uma história para internet. Ou melhor, uma fanfic. Todos adoravam e eu me sentia uma escritora melhor a cada elogio. Porém, depois de publicar um determinado capítulo, recebi uma crítica negativa. Eram alguns parágrafos (!) que apontavam o que hoje mais temo: descaracterização e a falha em construir ou personagens puramente bons ou puramente maus. Fiquei sem chão enquanto lia. Depois respirei fundo, agradeci pelo comentário e tentei melhorar. Hoje, eu concordo com a pessoa.
Se você falar mal de algum texto meu, apontar erros, interiormente eu vou ficar triste e ao mesmo tempo tentar compreender e se a crítica fizer sentido depois de eu analisá-la, certamente tentarei consertar.
Ver o seu livro como um filho que precisa ser protegido é natural, mas é danosa. Para as editoras, seu livro é um produto, e como um produto, você será obrigado a consertar coisas que ela julgue serem falhas. Nada melhor que já começar a pensar racionalmente em possíveis falhas comentadas por terceiros, enquanto você ainda tem a liberdade de segui-las ou não. E mesmo se decidir publicar profissionalmente por outro caminho além de editoras tradicionais, pensar com ponderação nos comentários negativos pode te fazer crescer como autor.
Eu sei. É díficil. Difícil para mim, para você, para todos nós. Mas se não vamos tentar melhorar a partir de certas críticas, quem o fará por nós?
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