As mazelas da alma em "O retrato de Dorian Gray"

Título: O retrato de Dorian Gray
Autor: Oscar Wilde
Páginas: 260
Editora: Penguin - Companhia

A história de "O retrato de Dorian Gray" tem seu início quando o pintor Basil Hallward sente-se profundamente inspirado pela beleza do jovem Dorian Gray e convida-o a pousar para ele. Nasce o retrato de Dorian Gray, pintura que Basil considera a obra de sua vida. Quem também considera o quadro muito bom é seu amigo de caráter duvidoso, Lord Henry. Algumas poucas palavras a Dorian Gray e o jovem é atingido pela finitude da beleza e da juventude e em um impulso deseja que aquele quadro carregue em si os anos e os pecados para que ele, o próprio Dorian, possa continuar jovem e belo para sempre. Por algum acaso do destino, seu desejo se torna real. E a pintura aos poucos se transforma em um espelho da alma de Dorian Gray.

A primeira vez que ouvi falar sobre essa obra foi na Universidade. A natureza da história me chamou a atenção. Eu tendo a me atrair por textos que mostram os seres humanos como são: criaturas imperfeitas. Ouso dizer que gosto até de ler sobre as partes mais escuras da alma - Machado de Assis e Poe que o digam.

Antes de começar a leitura, eu já tinha o spoiler máximo do final, então eu já sabia como o livro terminaria. Sim, eu acho que os spoilers às vezes estragam o final ou parte da obra, mas eu tinha um professor que costumava dizer que se a história é boa e bem escrita, um spoiler não vai estragar a sua experiência. Seja como for, eu já sabia o desfecho, e sei que se eu não tivesse pegado o spoiler, não teria pensando em algo como aquilo.

A forma como o quadro se liga à alma de Dorian Gray é um verdadeiro mistério. Acho legal histórias que colocam um aspecto fantasioso sem realmente explicar, porque nem tudo precisa de explicação para fazer sentido. Quando você lê Dorian Gray proclamando "Como é triste! Eu vou ficar velho e horrendo e medonho. Ele jamais envelhecerá além deste dia de junho... Se eu permanecesse sempre jovem e o retrato envelhecesse! Por isso - por isso - eu daria tudo! [...] Daria a minha alma por isso!" (p. 35) a primeira coisa que vem a mente é "Cuidado com os seus desejos: eles podem ser realizar".

O interessante é que o que desperta os olhos de Gray para a brevidade da juventude são as palavras de Lord Henry. Ele tem um jeito nada sutil de questionar as coisas ao seu redor e faz isso de uma maneira tão perspicaz que corrompe até a mais bela das almas. Durante todo o livro, a única pessoa que parece não ser afetada pelas palavras de Henry é o próprio Basil, apesar do primeiro o ver como alguém sem "muita curiosidade" (p. 148). 

Essa influência que Henry tem sobre Dorian é percebida por este, que tenta se esquivar dela, mas acaba se entregando aos prazeres e promessas de prazer por trás das palavras de Henry. No decorrer do livro, vemos em Dorian muito de Henry, e enquanto sua beleza continua intacta, como muitos anos atrás, o quadro se deteriora, acusando para quem o olhar a verdadeira natureza da alma de Dorian Gray.

Aliás, as marcações de tempo não são muito fortes, mas certa passagem do livro fala de um intervalo de 18 anos. E Dorian continua com a mesma face de quando o quadro foi pintado. 

É claro que como toda boa obra, seu desfecho final é o golpe de misericórdia que fecha a história e nos deixa pensando nos "porquês" e nos "ses". 

O livro em si é bem escrito, apesar de algumas partes descritivas me entediarem facilmente. Apesar de ser uma pessoa visual, quando há descrições em excesso eu me perco facilmente e paro de absorver o significado das palavras. Outra característica que observei com a leitura foi que o livro começa lento, tem um desenvolvimento relativamente lento e do meio para o fim engata em uma sucessão de acontecimentos que te faz grudar no livro para ver como as coisas ficarão no fim. Isso é algo que eu não encontro em muitos livros clássicos, geralmente a escrita pesada me faz demorar na leitura e no encerramento da leitura.

Para as pessoas amantes do grotesco e do gótico, "O retrato de Dorian Gray" é uma leitura e tanto. E para os curiosos quanto a história, aventurar-se em algo novo pode ser uma ótima experiência!

E você, já tinha lido esse livro? O que achou?
As mazelas da alma em "O retrato de Dorian Gray" As mazelas da alma em "O retrato de Dorian Gray" Reviewed by Thaw on fevereiro 03, 2021 Rating: 5

Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.