As brumas de Avalon: quando as mulheres contam a história

Teoria Geek

A lenda do rei Artur e os cavaleiros da távola redonda fizeram parte da minha infância, mesmo muito antes de eu fazer ideia do que seria uma távola redonda. Tive contato com tantas releituras diferentes ao longo da vida, que conseguia apontar apenas alguns pontos em comum: tinha o rei Artur, Merlim, cavaleiros, e a escalibur. Quando fui ficando mais velha, essa história foi ficando para trás e os detalhes foram se perdendo. Contudo, ao entrar na faculdade de Letras, um professor passou o filme "As brumas de Avalon", que pelo título eu nunca imaginaria que seria a lenda do rei Artur com uma roupagem nova. Na época, não deu para assistir o filme inteiro, então nunca soube que rumo a história tomava, e estava tão afundada em trabalhos, estágio, TCC, que nem fui atrás. E, para falar a verdade, até hoje não assisti o resto do filme, nem tenho pretensão de assistir depois de ler esse review do Zinema.

Um tempo depois desse primeiro contato com a história, vi uma amiga lendo um livro d'As brumas de Avalon, e é claro que como uma leitora adepta ao clichê de que os livros são melhores do que os filmes, eu fiquei feliz por saber que tinha livro. Mas, lembra da correria que citei acima por causa da faculdade? Pois é, não tinha tempo nem dinheiro para comprar e ler os livros. E eles ficaram lá, naquela lista eterna de livros-que-a-gente-quer-ler-mas-nunca-lê. Daí um dia a Ichigo estava desapegando de vários livros, e As brumas de Avalon estava no meio por uma bagatela de 5 reais cada livro (são quatro). Comprei e pensei: agora vai! Mas não foi, não. Esses livros ficaram encalhados na minha estante por um tantinho de anos aí.

Então, 2021, estava lendo muito pouco porque estava trabalhando, fazendo uma pós e um curso técnico. Tinha terminado a pós, e estava de férias do curso e do trabalho, então finalmente comecei essa leitura.

Mad Minds

Gravei vários stories no instagram do Tribo Letras durante a leitura, e fiquei bem empolgada. Fiquei temerosa de que a linguagem fosse muito pesada à la clássicos, mas não. O livro conta com uma leitura bem fluida, apesar da época em que foi escrito. E é muito interessante observar, pela primeira vez, a história do famoso rei Artur contada pelo ponto de vista das mulheres da trama. De Igraine à Morgana, passando por Viviane, Morgause e Gwen 一 me recuso a escrever o nome completo, que eu não consigo nem ler, reduzindo para Gwen mesmo. O intervalo de tempo entre o início do primeiro livro e o final do último é bem grande. As personagens são complexas, a história é muito bem escrita e a trama é tão bem amarrada que me fez sentir que essa era a história original, e o resto, cópias baratas que reduziam tudo na figura de um único homem.

Na história, temos a ilha sagrada de Avalon, local no qual a adoração à deusa é a religião vigente. Ao mesmo tempo, temos uma Britânia sendo dominada pelo cristianismo de modos nada amigáveis. As sacerdotisas devotam sua vida à deusa e à adoração da deusa e querem que essa religião pagã continue na Britânia, em especial na figura de Viviane, a senhora do lago. Para isso, e seguindo inspiração da deusa, vários acontecimentos são manipulados de modo a levar ao trono o rei Artur (que nem era nascido no começo da história). Ele seria um rei pagão que levaria a bandeira de Avalon ao campo de batalha. E é claro que se fosse para as coisas acontecerem assim, tudo bonitinho, a história acabaria rapidamente, mas não é isso que acontece. Vários conflitos surgem ao longo da história e é muito legal seguir sem saber ao certo como as coisas vão terminar. 

Eu gostei bastante da leitura e da conexão com a natureza que as sacerdotisas demonstram. Gostei como o livro critica a intolerância, no caso a pregada pelo catolicismo, e em como prega que todos os deuses são um só, e que esse deus é de tolerância e amor. É uma leitura atemporal, que consegue dialogar com os dias atuais, e que coloca em pauta de modo bastante natural questões que até hoje são consideradas tabu. 

Como não conseguiria falar mais sobre o livro sem dar spoilers, vou parando por aqui, deixando como uma ótima indicação de leitura para quem quer ter uma visão diferente da tão conhecida lenda do rei Artur e os cavalheiros da távola redonda. 

As brumas de Avalon: quando as mulheres contam a história As brumas de Avalon: quando as mulheres contam a história Reviewed by Thaw on janeiro 26, 2022 Rating: 5

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