Avatar, a Lenda de Aang: a igualdade é o elemento superior


Eu era apaixonada por Pokémon quando criança, minha infância pode ser resumida em sonhar ser uma treinadora como quase todo mundo que via o anime nos anos 2000. Uma época mágica. Mas o que era para ser só uma história de crianças caçando monstros de bolso e batalhando acabou tendo mensagens positivas para muitos, algumas que ainda levo comigo até hoje. Em certo episódio, há uma fala dita pelo Miau que me marcou extremamente na época, caiu no meu inconsciente para depois ser meio esquecida por anos. Tempos atrás, acabei a encontrando no youtube e a mesma sensação que tive quando a ouvi pela primeira vez, retornou. 

Ela é assim:

We do have a lot in common.
The same air, the same Earth, the same sky.
Maybe if we started looking at
what's the same instead of
always looking at what's different,
...well, who knows?


Nós temos muito em comum.
O mesmo ar, a mesma Terra, o mesmo céu.
Talvez se olhássemos
para o que temos em comum
ao invés de sempre procurar nossas diferenças,
... bem, quem sabe?

Crianças conseguem absorver com facilidade certas lições de moral, não vão exatamente virarem monges budistas, mas o inconsciente vai guardar o cerne daquilo que lhes toca o coração e emoção. Esta frase do Miau me causou sentimento similar. Terminar Avatar: A Lenda de Aang (The Last Airbender) provoca a mesma sensação, o que até me causou tristeza por eu ter assistido só agora.

Tenho certeza que já viu o icônica introdução do desenho, terra, fogo, ar, água. a aparente simplicidade da premissa facilita a compreensão de seu simbolismo. O mundo é dividido em quatro: tribo da água, reino da terra, nação do fogo e nômades do ar. Somente o Avatar pode controlar os quatro elementos e trazer o equilíbrio. Entretanto, tudo dá errado quando a nação do fogo ataca. As três temporadas lidam com um mundo onde o avatar Aang vive aventuras ao lado da dominadora de água Katara e seu irmão Sokka em busca de meios de vencer a guerra contra a nação do fogo, sempre fugindo de Zuko, o pária da nação do fogo cujo único objetivo é capturar o avatar e ser aceito por seu pai, o Senhor do Fogo, que o desonrara. 

É um desenho que certamente todo mundo lembra. As cores são vivas e a simplicidade da premissa esconde uma mitologia rica. Com fortes influências orientais e conceitos budistas, Avatar é um enfileirado de aventuras em mundo vibrante porém não menos pesaroso, pois a guerra está sempre à espreita. Mesmo nunca se privando do cômico, a jornada segue as perdas e os dramas internos dos personagens, principalmente Aang e Zuko. Aang, que nunca quis ser o avatar encara o fato de ter sido congelado por cem anos e escolha de fugir, que resultou na morte de todos os nômades do ar. Sua alegria e pensamento positivo mostrado a todos se contrasta com a culpa e pesar que esconde dentro de si. E Zuko, que poderia sofrer da síndrome da Equipe Rocket por perseguir o grupo principal para capturar x, acaba sendo o personagem mais interessante não só da série, como de toda a franquia. 

Após injustamente ser banido de seu país e ter o rosto queimado por seu pai Senhor do Fogo, o príncipe Zuko persegue o Avatar ao lado de seu querido tio Iroh, um senhorzinho que não liga para a guerra e só quer o bem para o sobrinho. Na cultura japonesa, principalmente em dinastias antigas, o sentido de honra é muito forte e aqui também, resgatar a honra perdida é o objetivo maior de Zuko. Mas até que ponto ele lutará por sua honra e aceitação do pai que o odeia? Pois com as temporadas progredindo, o conflito entre o certo e o errado, entre o vazio e a libertação luta dentro dele. Preciso fazer uma menção especial ao episódio Zuko sozinho (Zuko alone), da segunda temporada, no qual diferente de todos os outros, é protagonizado inteiramente por ele. Na história, acompanhamos suas andanças solitárias numa cidadezinha no reino da terra após se separar de seu tio; ali, vê diante de seus olhos uma pequena população que sofre os efeitos da guerra. No fundo, sabe que suas tentativas de ajudar uma família local não são formas suficientes de reparação. "Eles nos odeiam", diz Zuko  com pesar uma temporada depois.

Entre continuar perseguindo o avatar ou seguir os conselhos de seu tio, Zuko progride a narrativa de uma maneira mais interna que externa. Outros vilões vêm e vão, outros permanecem como sua irmã Azula, mas ao longo dos arcos, somente Zuko parece ter a moral balançada. Aqui, seu tio Iroh aparece como conciliador e guia, engraçado e positivo na maior parte, perdera um filho e por conta disso, desistira de ser o Senhor do Fogo. Seu sobrinho é o único que lhe restou.

O equilíbrio e igualdade entre e terra, fogo, água e ar parecem óbvios, vendo pelo lado de fora, a guerra iniciada pela Nação do Fogo parece sem sentido. Mas isso não são todas as guerras? A desculpa do Fogo de compartilhar suas conquistas e conhecimento com outros povos não convence nem no desenho e nem quando ocorre na vida real. Às vezes, as pessoas são só perversas e as gerações aprendem a lidar com isso. Os quatro elementos vivendo em paz, de novo, é óbvio, todos saem ganhando. Nenhum elemento é superior. Entretanto, a igualdade na vida real também parece um objetivo óbvio para o bem-estar social, e mesmo assim, provavelmente, jamais acontecerá. 

A verdade é que mais que uma fantasia, Avatar é sobre a jornada de cada personagem e o equilíbrio máximo. O equilíbrio da natureza e de nós. Se todos estivermos em paz com nós mesmos e tivermos um sentido de viver em harmonia, isso se refletirá no mundo.  



Avatar, a Lenda de Aang: a igualdade é o elemento superior Avatar, a Lenda de Aang: a igualdade é o elemento superior Reviewed by Alana Camp. on abril 20, 2020 Rating: 5

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