Saída




Eu estou neste quarto há muito tempo, mal consigo me lembrar. Quando fiquei aqui, meu rosto cheirava a álcool, meu corpo estremecia e minha boca e nariz estavam secos. Tudo era frio e o homem que me observava pela porta entreaberta tinha uma touca laranja e velha, um palito entre os dentes tortos. 

As paredes parecem se aproximar, se encolher ao meu redor, a cama um monstro que me suga e debaixo dela, uma caverna que me protege. Gosto de ficar lá e fingir que o quarto não existe, que as paredes estão mais distantes umas das outras, que elas estão sendo demolidas como uma castelo de carta após um peteleco.

Imagino o homem fora da casa, levando consigo seu gorro laranja e deixando a porta aberta, imagino um acidente lhe acontecendo, imagino as chaves do portão largadas e esquecidas na bancada da cozinha. 

Penso em muitas coisas, mas, até lá, estou aqui. No mundo pequenino e intransponível deste quarto.
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Por: @blumcamp




Saída Saída Reviewed by Alana Camp. on agosto 22, 2022 Rating: 5

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