O avesso da pele


Gramatura alta

Título: O avesso da pele
Autor: Jeferson Tenório
Páginas: 192
Editora: Companhia das letras
Sinopse: Pedro acaba de perder seu pai e enquanto o reconstrói através de suas memórias, somos convidados a encarar a vivência negra em uma sociedade racista. Passado e presente se mesclam para dar forma a história de Henrique e como sua vida foi interrompida abruptamente.

Atenção: esse post é uma discussão do livro e haverá spoilers! 

Esse livro foi escolhido para um Clube do livro do qual faço parte. Fiquei ansiosa para ler, pois já tinha ouvido comentários de que o livro era muito bom. 

De cara, fiquei um pouco incomodada com a narrativa em segunda pessoa. É algo que foge do comum e tudo que foge do comum causa uma certa estranheza. O foco narrativo do livro varia entre primeira, segunda e terceira pessoa. Quando Pedro, o narrador, está falando de suas próprias vivências, ele usa a primeira pessoa. Quando fala sobre a mãe, usa a terceira pessoa e quando fala sobre o pai, usa a segunda pessoa. Desse modo, para o leitor, é como se ele próprio fosse o Henrique. Achei um modo diferente de contar a história, mas como já falei, foi estranho.

No primeiro capítulo já sabemos que Henrique morreu. Apesar de ainda não conhecer os personagens pelo nome, vamos entendendo como o narrador vê as situações, como ele as conecta e como ele as sente. É a história de um homem negro em Porto Alegre, uma cidade retratada como racista e na qual Henrique é um dos poucos negros nos ambientes que transita. 

É muito interessante acompanhar o desenvolvimento da vida de Henrique e acompanhar como ele constrói sua identidade de homem negro, como ele se enxerga dentro da sociedade e, principalmente, como a sociedade o enxerga. O título, assim como a capa, casam perfeitamente com a história. Não se vê o avesso da pele, por baixo da derme não tem como diferenciar uma pessoa negra de uma branca.

Existem vários questionamentos da violência sistemática vivenciada pelos negros na sociedade, seja ela velada ou escancarada.

Eu imagino que para pessoas negras ou mestiças, a leitura tem um teor quase pessoal. É você, é seu pai, sua família. Não sei ao certo como uma pessoa branca entende uma leitura como "O avesso da pele". 

No geral, foi um livro muito dolorido, o foco narrativo foi inovador e a história é uma ficção que poderia ser real e isso a deixa mais visceral. Indico muitíssimo a leitura, fez o meu dia mais questionador e ajuda a abrir os olhos para uma realidade que muitas pessoas acham que sequer existe.

O avesso da pele O avesso da pele Reviewed by Thaw on agosto 29, 2022 Rating: 5

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